Uma só arte, no mundo antigo, era ensinada à moça e cultivada com zelo pelas mulheres. Caminho único para o sonho, única evasão prazenteira permitida a criaturas das quais as leis fazem perpétuas tuteladas: a arte do ritmo, que engendra a Música e a Dança.
Esporte de cultura, a dança é honrada desde as primeiras eras como a elevação aos deuses de uma prece perfeita, porquanto une os movimentos do corpo aos do espírito. Em ritmos consagrados, tocados na lira ou no saltério e acompanhados de tamborins e flautas, os gestos se tornam rituais e ajudam a desenvolver, em linguagem simbólica, a harmonia das formas e do pensamento.
Mas, se as danças sacras tem as suas sacerdotisas, que participam de todas as grandes festas da Grécia, quão mais fascinante é a linguagem das danças profanas: as danças que serviram a Salomé, sobrinha de Herodes-Antipas, para obter a cabeça de São João Batista.
Ela era uma bailarina-criança, menina de nobre estirpe, que possuía o segredo dos gestos mágicos, herdados do Egito e do Oriente por vetustas sabedorias. Não é igualmente graças a ele que Teodora, filha de um beluário, seduz Justiniano a tal ponto que ele a eleva ao trono de Bizâncio? Esses gestos são combinações de atitudes que participam da magia.
A música concorre também, mas como apoio á melodia; composto unicamente de hinos, canções e coros, seu concurso é,antes de tudo, vocal e instrumental, mas sem noção de orquestra.
Nicéas Romeo Zanchett