Na música antiga predominava uma expressão grande e dolorosa. O mundo dos sons, como o das palavras, vive da sua herança. Quarenta séculos não esqueceram Safo.
Sem dúvida, são poemas que a imortalizam; mas sobre que ritmos os construiu ela? Sobre os seus próprios. A obra sáfica não marcou senão a literatura. Sua lira a cantou e os poetas,por seu turno, a transmitiram. Achar-se-á em outro lugar sua história: a de uma apaixonada da Beleza, ardendo qual uma chama sobre a terra abençoada de Mitilene e que, despedaçada por paixões imperiosas, depois de um último canto, atirou-se ao mar do alto de um rochedo. (VI século antes de Cristo.)
Quase um milênio se passará antes que uma outra voz melodiosa se faça ouvir. Ela vibrará no século VI antes de nossa éra, na Grécia de ares tépidos e transparentes. Safo nasce na ilha de Lesbos, onde forma sua escola, falanges de poetisas e musicista.
Que se sabe da sua vida, de sua morte? Quase nada, fora a lenda que a cerca. Ardendo de amor por Fáron, o belo efebo, e repelida por ele, vai achar seu túmulo no mar, onde se precipita do rochedo de Leucade. Morte, sem dúvida, tão fantasiosa quanto a sua existência de cortesã, ou o vício cujo nome deriva da ilha natal.
Para celebrar o amor, a paixão, a beleza, ela encontra a estrofe "sáfica". De seus poemas, que formavam nove livros, de ritmos e inspirações múltiplas, de acento eternamente novo, de uma arte natural e requintada não restam senão duas odes e alguns fragmentos. Mas eles encantarão sempre, como a própria Safo encantou e encantará para sempre seus inspiradores, escultores, pintores, músicos, poetas, romancistas.
Nicéas Romeo Zanchett
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